[EXTRA] Parcerias/Duetos/Colaborações: Se não pode vencê-los, junte-se a eles


Em um passado não tão distante, artistas com algo em comum (musicalmente falando) se uniam para compor ou dividir os vocais em canções que estão marcadas até hoje como clássicos. O épico encontro dos irmãos Jackson em "Scream", rainha e princesa do pop em "Me Against The Music", Mariah Carey e Whitney Houston com "When You Believe" são alguns dos afortunados exemplos. Bem, as coisas mudaram.



Com o advento da internet e a propagação de novos talentos a cada minuto, torna-se cada vez mais difícil para um artista se manter relevante no cenário musical. E é ai que entram as parcerias. Afinal de contas, uma mão lava a outra, sabe?!


Quando você tem de um lado um artista consolidado tentando se manter no páreo contra a concorrência e do outro novos e promissores artistas que estão tentando se consolidar ou conseguir o reconhecimento do grande publico, eis que é a deixa para uma bem elaborada e comercialmente planejada colaboração. Mas então, qual seria a diferença deste tipo de dueto/colaboração para as de alguns anos atrás? Pois bem, a resposta está na forma como tudo nos é apresentado. Vamos aos exemplos, para tudo ficar mais claro.

Não é mais segredo pra ninguém que o indie, em todas as suas vertentes (seja rock, pop, rap), é o gênero que está nos holofotes atualmente. Pensando nisso, nomes como Rihanna e Pink viram ai uma grande oportunidade para criar canções que iam em caminho oposto a praticamente tudo em seu repertorio. Ao ouvirmos a balada "Stay", carregada praticamente apenas por um piano e com vocais emotivos, é impossível não remeter-se ao estreante Mikky Ekko, que não por acaso participa da canção e é seu co-compositor. "Just Give Me a Reason", uma surpresa que ninguém esperava no álbum mais recente da Pink, não poderia se assemelhar mais com as faixas do fun., comandado por Nate Ruess, seu colaborador.


Ainda seguindo esta linha, temos agora como exemplos grandes nomes da música, citados no inicio do texto, que conseguiram emplacar novos hits abdicando quase que 100% de sua personalidade na canção. Britney Spears aceitou o convite de will.i.am para "Scream and Shout" e deixou o rapper brincar com seus vocais e utilizar o auto-tune em um nível semi-robótico característico dele. Carey, que já havia surpreendido a todos por se deixar ser coadjuvante na própria canção, quando lançou "Triumphant" ano passado, este ano fez com que todos se perguntassem se "#Beautiful" é Mariah featuring Miguel ou Miguel featuring Mariah, optando sabiamente por colocar um "&" entre o nome dos dois. Todavia, talvez a dupla (quase que oficializada) Jennifer Lopez e Pitbull sejam os precursores deste tipo peculiar de parceria. Quando lançaram despretensiosamente "Fresh Out the Oven", faixa promocional, JLo ainda andava na corda bamba após o fracasso comercial de 'Brave' e estava numa fase experimental, no melhor estilo "vamos ver o que dá certo". Quando percebeu que aquilo não era exatamente o que os ouvintes queriam ouvir e assistindo paralelamente o rapper cubano despontar nas rádios com sua mistura de rap latino com dance music, o "casal" reciclou o hit "Llorando se fue" (no Brasil conhecido como "Chorando Se Foi") e criou o sucesso estrondoso que foi "On The Floor". Não satisfeita, Jennifer quis fazer com que o raio caísse uma segunda e até uma terceira vez no mesmo lugar, e aqui estamos nós tentando descobrir se Lopez um dia vai retornar ao Latin Pop e a harmoniosa mistura de R&B com Hip-Hop que lhe tornaram o que ela é hoje, ou se finalmente vamos ter nas lojas um álbum completo com os créditos JLO & Pitbull.


Não se limitando a interpretação da canção, algumas colaborações chegam a ser quase que características de um determinado artista, mesmo que você não possa ouvir sua voz na faixa. É praticamente impossível não associar o sotaque e as notas de (novamente) Rihanna em “Diamonds” se você conhecer o trabalho de sua compositora, Sia Fuller. E tem parcerias que são tão estereotipadas, que quando um de seus membros tentam com outra pessoa acaba se tornando quase que um cover, como aconteceu quando Jessie J divulgou “Domino”, e todos nós sabemos a quem aquela canção produzida por Dr. Luke e composta por Max Martin realmente se assemelhava.


É complicado discutir este assunto, pois por um lado é algo perigoso assumir a identidade de um terceiro para uma canção que será marcada para sempre em seu repertório, mas por outro cantores são cobrados constantemente para que não caiam na mesmice de lançar faixas que mais parecem um megamix, de tão parecidas que são. E fica mais difícil de manter uma posição, quando algumas são tão péssimas que parecem piadas e outras são tão boas que a gente releva todos os artifícios utilizados para chegar naquele produto final.