O que faltou no VMA 2013?



Vitrola: o que faltou no VMA 2013?VMA6B. Pillah: “Amidst all of these flashing lights, I pray the fame won’t take my life” (“Em meio a todos esses flashes de luzes, eu rezo para que a fama não me tire a vida”).
E assim Lady Gaga começou a performance que seria um divisor de águas em sua carreira. A frase resume a música “Paparazzi”; a frase
justifica o título do seu álbum de estreia; a frase expõe definitivamente a relação que a Gaga teria com a fama e a mídia. Após o sucesso dos primeiros singles, “Paparazzi” emergiu como uma das faixas mais representativas do “The Fame” e um passo à frente em seu repertório. A textura dos sintetizadores, a harmonia e os vocais presentes no refrão entregam de forma precisa a dramaticidade quase cômica dessa letra sobre a relação de amor e ódio entre uma estrela do pop e seus seguidores. A apresentação teatral de “Paparazzi” no MTV Video Music Awards de 2009 conseguiu expressar dignamente o espírito da música. O assombro audível do público quando ela começa a sangrar representa que a performance artística atingiu seu maior objetivo. Gaga cantou com vigor e potência, elevando a música a outro nível. Os vocais ao vivo no refrão final foram desesperados, mas precisos, cravando cada nota necessária. Foi um daqueles momentos em que o artista solidifica seu lugar na história da música pop com uma performance. E ainda deixa a eterna pergunta: a arte imita a vida ou a vida imita a arte?

vma2Lucas Castro: Hoje, mais lembrada pelo que veio antes (o anúncio por Britney Spears e Lady Gaga) e depois (Beyoncé jogando o microfone e passando a mão na barriga, anunciando pra todo mundo que estava grávida),o momento-chave desta performance da Beyoncé vem, na verdade, de um corte rápido – cerca de 2 segundos só – da câmera para a Adele sorrindo e cantando timidamente o “come on baby” da música no meio do público. Num numeroso time de backing vocals e vestida como qualquer artista da Motown no início dos anos 70, ter o maior fenômeno pop daquele ano (e sendo ela uma fiel representante daquilo que “Love on Top” quer ser) reduzido a qualquer outro fã seu parece até uma comprovação de que Beyoncé estava ‘no caminho certo’. Isso porque “Love On Top” pode até parecer uma música dentro do “padrão Beyoncé”, mas que livre de alguns cálculos e excessos que ela sempre priorizou nas baladas soa até arriscada: como a sua principal influência aqui (Stevie Wonder), ela consegue dominar plenamente um tipo de pop mais sincero e doce ao mesmo tempo em que sempre está a ponta de um iceberg (afinal, não seria a Beyoncé sem tantos gritinhos né?). E o que parecia um demérito, ela transforma em mérito sem se esforçar muito; passeando por abismos de oitavas desnecessárias e a letra do The-Dream que melhor caberia num script de comédia romântica, graças a suavidade com que Bey pode ser tudo ao mesmo tempo em “Love on Top”.
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Lucas Fialho: Desde que a internet cresceu e passou a MTV como plataforma de videoclipes, a emissora americana foi alterando sua proposta e perdendo sua identidade, investindo cada vez mais em reality shows de rich-and-bored-kids que querem fama a qualquer custo ou séries roteirizadas quase sempre mirando o público jovem. Quando Florence tocou em 2010 ela estava em um cenário de escassez criativa: os últimos VMAs tinham sido patéticos e previsíveis, marcados por artistas fazendo de tudo pra chamar atenção e cada vez menos talento no palco.

Com um dos melhores singles de sua carreira e destaque no Lungs, Florence então mostrou seu vozeirão e excelente técnica atrelado a sua personalidade weird com uma performance que além de deslumbrante visualmente e muito bem planejada, não deixa de ser divertida e contagiante, provando que não é necessária uma coreografia robótica e over ensaiada com uma música genérica de fundo pra cativar a audiência.

Outro dos motivos de ser a minha escolhida é porque despertou bastante atenção do público pra uma artista nova, já que foi depois disso que Florence emplacou nos EUA, afinal não é qualquer britânica que consegue ter dois álbuns platinados por lá. Dog Days Are Over é um dos melhores singles de ~2010~ (na verdade primeiramente foi lançado em 2008 e depois relançado), com sua rica e dançante produção onde se pode notar a presença de vários instrumentos e sua pegada indie-folk-rock apaixonante. Definitivamente uma das melhores novidades femininas do ano e que ainda tem muito a oferecer, Dog Days Were Over pro VMA!
VMA1Luan Damasceno: Britney Spears: garotinha, angelical, inocente, virgem, the Miss American Dream… Até o dia em que o mundo assistiu (e ouviu), pela primeira vez, “I’m A Slave 4 U” no VMAs 2001. Slave era diferente… No tocante da carreira de Spears: totalmente diferente. Aquela garotinha que se prendia ao gênero teen pop que ela mesma ajudou a definir, não estava apenas saindo da mesma gaiola que a cercava junto a um tigre branco… Ela estava saindo da sua zona de conforto para se tornar o verdadeiro tigre daquela noite – e, por que não?, da sua geração.

Britney Spears entregou-se para aquilo que foi uma das mais bem executadas performances de toda a história da premiação e, ainda, trouxe um exemplo perfeito da sinergia musical e visual que define o conceito daqueles grandiosos artistas que genericamente intitulamos de “popstars”. Também pudera, I’m Slave 4 U, é o passo da carreira de Spears que mais notoriamente declara qual foi a maior influência da sua carreira a partir dalí. E não estou falando de Madonna, que sempre foi apontada como o modelo de artista que a “até-então-virgem” estaria seguindo… Falo de Janet Jackson e Prince: a fusão do apelo visual dela com a maestria musical dele, dois grandes ícones pop, foram responsáveis por tornar Britney ainda mais interessante e intrigante.

So let her go… and just listen! Porque aquela moça, que até então era definida como uma inocente Lolita do colegial e tinha (e ainda tem, com certa razão) seu talento posto em dúvida, estava saindo daquela jaula para explorar a sensualidade do seu corpo e de seus movimentos, ao som de uma produção minimalista e eletrônica dos The Neptunes, cercada por um palco composto por um ambiente selvagem e com uma cobra Phynton em seus ombros para, instâneamente, entregar não somente um manifesto que introduziria uma nova Britney Spears e uma das performances mais icônicas do VMA… mas também para tornar-se um dos maiores ícones que representam essa premiação.
VMA4Rembes: Kanye apresentou Runaway pela primeira vez no VMA 2010, um ano após a polêmica que se envolveu na mesma premiação ao subir ao palco, retirar o microfone das mãos de Taylor Swift e surpreender a todos ao declarar que o prêmio era de mérito a Beyoncé. Apesar da letra de Runaway não ter relação com Taylor e sim com um relacionamento mal sucedido do rapper. A apresentação foi em tom de retratação ao ocorrido com a jovem cantora (que na mesma premiação também se apresentou com uma faixa direcionada ao fato), marcando ainda mais o culto que se formou em volta do ocorrido em 2009 onde criticas e analises foram feitas por todos os jornais, redes sociais e derivados, muitos declaravam o fim da carreira do rapper, outros se atraiam ainda mais com as atitudes contestáveis e impulsivas do artista.

Além de marcar esse fato, a música por si só é muito maior e representa uma autoanalise aclamada pela critica, com razão, Kanye despejou uma das melhores letras do disco naquele palco, uma clara luz no fim daquele imenso fim de poço que parecia orbitar. E o palco todo iluminado em luz branca, apenas com aquele ponto vermelho sendo Kanye trouxe ainda mais valor a estreia daquela faixa com tantas representações. Era seu fundo do poço sendo iluminado ao vivo.

Outro ponto também representado é a exploração das máquinas e tecnologia atualmente, que trazem esse tom sem empatia, toda essa cena é relatada pela produção extremamente calculada da faixa, com timbres e batidas encaixadas nos lugares exatos, lugares ideais esses que muitos nem imaginavam existir. As notas iniciais com tom de piano, sonorizando uma melancolia evidente são cobertas por um groove frenético de batidas e vozes distorcidas ferozmente. As distorções na voz dão o toque de maquina á faixa, distorções também antes não vistas e que Kanye parece conduzir como um pintor excepcional em uma tela já manchada, mas dando forma aquela cena borrada de qualquer forma.

E com toda a grandiosidade da faixa mesclando um relacionamento que lhe feriu e a produção levando a compreensão de máquinas tomando lugar de tudo ao redor e todos, Kanye consegue assim como na performance conduzindo um sintetizador sintetizar ao fim da faixa que ao final de tudo, nós é que estamos no controle ou assim deveria ser.
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Spencer: Em uma época completamente dominada pelos homens e pelas bandas de rock, Janet Jackson e Madonna eram as únicas que davam o ar do POP no VMA de 1993, e com seus discos mais sexuais: Enquanto Madonna abriu a premiação com Bye Bye Baby, Janet encerrou com um medley de duas das suas melhores canções:

A slow jam That’s The Way Love Goes, primeiro single do disco janet., é praticamente a mãe de tudo o que viria a ser lançado no mercado R&B nos anos 90. A batida crua seca somada aos vocais sussurrados e baixos de Janet fazem do teor sexual da música ir além da letra. O mais incrível é que Janet consegue dar vida e coreografia até mesmo para uma música desse estilo sem soar cansativo.

Mas o grande ápice é quando o primeiro single se encerra e miss Jackson faz uma insinuação de masturbação cheio de gemidos e ecos junto com suas dançarinas, e então começa “If”, um dos singles mais bem produzidos da carreira da cantora.

Versos rápidos por cima de uma batida de bateria seca bem 80s, e synths de guitarras distorcidas (que eram novidade no começo dos anos 90) quase uma versão moderna de Black & White (do seu irmão Michael). A música é agressiva em todos os sentidos, mesmo com a voz fraca e quase imperceptível de Janet no refrão. No palco, ela ganha ainda mais vida sem muito esforço, apenas com uma coreografia que simula atos sexuais, um break intenso (coisa que Janet sabia fazer de melhor e havia praticamente criado: os breaks em apresentações live) e um palco com um budget de 10 reais reproduzindo o cenário do videoclipe. Aqui não é preciso tirar a roupa e nem sangrar, Janet conseguia ser memorável fazendo apenas o que ela sabia fazer de melhor: dançar.

Boa parte de apresentações que aconteceriam do fim dos anos 90 para os anos 2000 nos palcos do VMA e de outras premiações eram reproduções disso. Christina Aguilera, Pink, Beyoncé, Jennifer Lopez, TLC e principalmente Britney Spears beberam muito da fonte de Janet Jackson.