Um texto sobre a internet e a cultura do ódio entre os fãs de música pop

Pra começar esse texto, quero primeiro imaginar o dia de um fã de uma cantora famosa. Ele acorda cedo, toma um banho e o café da manhã, aí liga o computador pra saber tudo o que perdeu do seu ídolo durante o período em que desligou o computador, foi dormir, acordou e tomou banho e café. Feito isso, ele abre então o canal VEVO do seu artista no Youtube, pra assistir incessantes vezes aquele clipe que está perto de ganhar um certificado de um milhão de visualizações no site. Não que ele queira reassistir o clipe, é tudo pelo status. Pelos números que ele usará como argumento em futuras discussões.

Enquanto o vídeo é executado em looping, o fã aproveita pra passar o tempo fazendo qualquer outra coisa, então vai lá e abre algumas mil abas em seu navegador. O blog que ele não gosta, um artigo que achou no Google criticando seu ídolo e aquele outro sobre uma artista que ele odeia. Todas as abas com o mesmo intuito, preencher seu tempo com muita discussão desnecessária, só pra que ele tenha mais uma oportunidade de expor seu ódio sobre o trabalho de alguém, mesmo que ele nem ache essa pessoa ruim, e claro, demonstre também seu amor pelo seu ídolo, mesmo quando sabe que não é dos mais saudáveis. Se ele não fizer nenhuma outra coisa da vida, como trabalhar ou estudar, talvez isso seja tudo o que ele fará, com breves pausas para as refeições do dia e, por fim, a cama, pra que todo o ciclo recomece nas horas seguintes.


Parece estranho, mas é isso o que imagino quando vejo certas figuras, seja comentando aqui no blog como em qualquer outra página. Pois sim, também costumo ler os comentários de páginas que não sejam minha e chega a ser engraçado as semelhanças. Os tipos de fãs são os mesmos, o mimimi também, o que muda são os artistas em questões, além do gênero da página alvo do tal mimimi. O mimimi fez da internet um monstro feio e gigante, e olhem só!, vocês estão lendo isso em um blog. No mínimo irônico, o que não deixa de ser real. A gente não sabe bem quando ou a razão disso começar, mas aconteceu das pessoas se sentirem melhor falando sobre e ouvindo/assistindo/lendo coisas que ODEIAM, do que aproveitando o tempo livre pra fazer algo que envolva coisas que GOSTAM. Taí mais uma coisa bem estranha.


Nesse texto, preferi não falar pelo blog, mas por mim mesmo, Maria X o Gui, e isso porque o tema é algo tão pessoal, tão subjetivo, que uma palavrinha fora do lugar já é motivo pra contradizer qualquer outra coisa que eu tenha dito, mesmo que na minha cabeça funcione bem. O negócio é que o artigo é justamente pra você, que se encaixa no perfil daquele fã acima, não pra mudar seu jeito de viver, se você se sente bem fazendo isso, que continue, mas pra mostrar que dá pra ser mais legal. Particularmente, eu detesto escrever sobre coisas que não gosto e o mesmo serve no momento em que vou escutar/ler algo, mas eu tenho um blog sobre música e não posso passar o resto da vida ignorando coisas que odeio, então em momentos preciso abrir exceções, e em muitas delas acabo me surpreendendo, tipo quando gostei do último cd da Avril Lavigne ou viciei naquela música do pra mim antes intragável Austin Mahone. Claro, acima disso tudo ainda tenho meu gosto pessoal, o que faz com que eu continue não suportando o último disco da Jessie J e Daft Punk ou toda a ~excentricidade~ chata da Lady Gaga em palco — mesmo quando ainda a adoro em estúdio, o “ARTPOP” é realmente muito bom —, mas pra tudo há uma solução e, olhem só, eu posso escutar os discos da Icona Pop, AlunaGeorge, MS MR, 3OH!3 ou qualquer outra dupla que nesse ano eu tenha achado melhor que Daft Punk e simplesmente não assistir as coisas ao vivo da Gaga, o que não faz com que tudo isso não exista, mas também não faz de mim um chato que fica se torturando com coisas que acha ruim, só pra ter o que discutir com pessoas que pensam o inverso. Onde fica a liberdade de expressão nisso tudo? Na minha escolha, de escutar, assistir, ler e falar sobre coisas que eu realmente aprecio. Algo que muitos deveriam fazer.

Não me entendam errado, a ideia aqui não é dizer que eu sou o certo e o resto da internet o errado. É só que agora as pessoas têm vendido uma cultura duvidosa, onde odiar é mais legal que gostar, e isso é muito chato. Pior ainda é quando essas pessoas se mostram, além de chatas, babacas ignorantes. Passando a odiar tudo e todos que não gostem do seu ídolo ou amar tudo e todos que já elogiou algo que gosta. É um fenômeno engraçado, porque o que menos vai importar aqui é a qualidade e sim a forma com que as palavras são usadas. Assim que artistas como aquela neozelandesa de 17 anos colecionam tantos odiadores e outros, tipo a amiga-de-todos Katy Perry, tantos “””fãs”””. Não é sobre a música delas e sim sobre as aspas que estarão na capa daquela revista ou na página inicial daquele site sensacionalista, mesmo que tudo esteja bem distorcido. Se querem exemplos, eu sou um deles, e numa controvérsia que me arranca gargalhadas. Já disse isso antes e creio que poucos acreditam, mas SIM, eu leio TODOS os comentários que colocam em nossas postagens e sempre acontece de, quando eu publico um texto que tenha algo negativo sobre a Lady Gaga, me criticarem e dizerem que sou fã da Katy Perry ou Britney Spears, e fazerem exatamente a mesma coisa, só que me chamando de fã da cantora de “Applause”, quando critico qualquer outra cantora. Não é algo proposital, na realidade acho um porre quando vêm com esse mimimi sobre o que escrevo, mas simplesmente não tem como não rir, principalmente quando não sou superfã de nenhuma dessas cantoras. Só escuto e elogio ou critico quando assim achar justo.


O problema, é que nessa cultura, que não é pop e sim pobre, o ódio vende. É por isso que o blog do Perez Hilton continua com mais acessos que o It Pop, por isso que a Lorde e os sul-africanos do Die Antwoord se tornaram tão interessante para veículos que, se não fossem suas “críticas” envolvendo outros artistas, não falam sobre outros nomes que fazem o mesmo tipo de música que eles, por isso que aquele site tem uma coluna SÓ pra criticar canções de nomes fortes do pop atual ou aquele outro dedicou seu tempo para um editorial onde culpa uma fã-base por todas as rixas da música atual e por tudo isso que a internet tem ficado cada vez mais chata e repetitiva. (Imagine aqui um GIF da Gretchen ou uma foto da Britney Spears fazendo “cara de merda”).

Em suma, pode parecer meio hipócrita eu dizer tudo isso aqui, quando agora pouco deveria estar rindo sobre alguma rixa idiota com fãs babacas de alguma cantora em algum lugar, mas a ideia principal aqui não é dar minha palavra como a última e sim promover uma discussão saudável, uma reflexão, afinal, não posso me dizer contra esse monstro criado “pela internet”, quando faço parte dele. Então eis o apelo: desliga esse computador e vai ler um livro ou, se preferir, lavar uma louça.

CRÉDITOS: ItPop!

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